15 de abril de 2019

RESENHA: Jane Eyre

Editora: Clássicos Zahar
Autor(a): Charlotte Brontë
Número de páginas: 536

Sinopse: Um clássico que explora questões de sexualidade, religião, gênero e classe. Jane Eyre conheceu o sofrimento ainda pequena, na casa da tia que a criou e na austera Lowood Institution onde foi educada. Desde cedo mostrou sua natureza firme e independente e assim ela se manteve por toda a vida: ao abandonar os tormentos de Lowood e se empregar como governanta em Thornfield Hall; ao descobrir o amor mas, com ele, um terrível segredo; ao decidir partir e, depois, recomeçar. Publicado em 1847, Jane Eyre é o romance mais conhecido de Charlotte Brontë. Com toques góticos e boas doses de crítica social e moral, este clássico da literatura pôs-se à frente de seu tempo ao apresentar uma personagem forte e explorar questões de sexualidade, religião, gênero e classe. Acompanhamos o desenvolvimento emocional da protagonista, sua busca por respeito, espaço e autonomia financeira, num mundo que não esperava tais ambições vindas de uma mulher. 

Olá gente lindaaa!
Vamos falar de "Jane Eyre"? Vamos falar desse clássico maravilhoso que tem como protagonista uma das personagens mais fortes que eu já vi na literatura! Jane Eyre, mulherão da por#@!
"Jane Eyre" foi o livro escolhido para a quarta edição do projeto #LeituraColetiva, com discussões semanais em um grupo criado no Facebook. Ao longo de toda a leitura eu fiz postagens no blog com minhas quotes favoritas. Confiram abaixo:

Quotes: 

Preciso começar esta resenha dizendo que fui cativada pela escrita de Charlotte Brontë desde a primeira linha do romance. Precisei me segurar para ler apenas os capítulos estipulados para cada semana... se dependesse da minha vontade, não largaria o livro até terminar. 
Ao longo das mais de 500 páginas (na minha edição, pelo menos), acompanhamos a vida, os sofrimentos, o crescimento e, principalmente, o amadurecimento da órfã Jane Eyre
Após a morte dos pais, Jane passa a ficar sob os cuidados do tio, mas com a morte dele, passa a ser maltratada pela tia e pelos primos. E a bichinha aguentou tudo calada por um bom tempo. No entanto, após ser, mais uma vez, maltratada pelo primo E punida injustamente pela tia, Jane acaba "surtando" e se revoltando contra as injustiças sofridas, chocando todos na casa. Como era possível que aquela "coisinha", depois de ter aguentado tanta coisa, agora se rebelasse contra seus opressores?

"Como eu desejava dar uma resposta completa a essa pergunta! Como era difícil responder ao que quer que fosse. As crianças têm sentimentos, mas não conseguem analisá-los; e se logram fazer, com o pensamento, uma análise parcial, não sabem como expressar o resultado do processo em palavras." (página 38) 
Após esse ato de rebeldia e indignação de Jane Eyre, a pobrezinha é enviada para Lowood, uma instituição famosa pela educação humilde dada aos órfãos. Em um primeiro momento, Jane fica feliz com seu novo destino, acreditando estar indo para uma simples escola. No entanto, em Lowood ela passa por todo tipo de privação, humilhação e mais sofrimento, assim como as demais alunas. Mas, em contrapartida, pela primeira vez ela faz amigos, pela primeira vez ela encontra alguém em quem confiar, em quem se inspirar, em quem se apoiar: a jovem Helen, que aos 14 anos é tão ou mais sofrida que nossa protagonista. E, sem dúvida, tem grande influência sobre quem Jane Eyre vem a se tornar quando adulta.
Pobre, Jane! Além de maltratada pela família que devia cuidar dela e amá-la, foi mandada para um lugar hostil... talvez por isso já pareça tão madura na tenra idade de 10 anos. Mas, por mais incrível que possa parecer, até o que ela passa na escola em meio a adultos tão hostis, a alimentação tão insuficiente e etc. lhe parece melhor que o que vivia em meio a "família".
"Eu já não trocaria Lowood, com todas as suas provações, por Gateshead e seu luxuoso cotidiano". (página 97)
Ocorre uma passagem de tempo de oito anos na história e passamos a acompanhar a jovem Jane, agora com 18 anos de idade e uma crescente sede por liberdade. Após anos em Lowood, ela demonstra uma grande vontade de explorar o desconhecido e um inconformismo por estar no mesmo lugar, fazendo a mesma coisa todo dia (me identifiquei com esse sentimento sim ou claro?).
Charlotte Brontë foi, sem dúvida, uma mulher muito à frente de seu tempo, com muitas críticas não apenas em relação à sociedade em que vivia, mas ao papel delegado (e esperado) às mulheres, e isso ganha voz através de Jane Eyre
"Das mulheres se espera que sejam muito calmas, de modo geral. Mas as mulheres sentem como os homens. Necessitam exercício para suas faculdades e espaço para seus esforços, assim como seus irmãos; sofrem com uma restrição rígida demais, com uma estagnação absoluta demais, exatamente como sofreriam os homens. E é uma estreiteza de visão por parte de seus companheiros mais privilegiados dizer que elas deveriam se confinar a preparar pudim e tricotar meias, a tocar piano e bordar bolsas. É insensato condená-las ou rir delas se buscam fazer mais ou aprender mais do que o costume determinou necessário ao seu sexo." (página 137)
Já longe de Lowood, Jane passa trabalhar em Thornfield Hall como educadora da pequena Adèle, protegida do Sr. Rochester, um homem misterioso e abrutalhado. Não demora muito para que Jane, talvez em consequência de seu pouco (ou nenhum) contato com o sexo masculino, fique cada vez mais caidinha pelo patrão, apesar do jeito turrão e da aparência austera dele (que combina tão bem com o nome de sua propriedade: ele é, de fato, um homem cheio de espinhos). Mas, devo dizer: muitos mistérios cercam Edward Rochester, seu passado, sua casa sombria... e temos aí mais algumas pitadas do estilo gótico da obra: a casa onde Jane passou a infância e foi maltratada, a austera instituição de ensino onde viveu por oito anos e agora a propriedade de Rochester, Thornfield Hall - cada um dos lugares é sombrio a seu modo.
É interessante como, em poucas semanas de convívio, o sr. Rochester consegue ler nossa protagonista perfeitamente: 
"Nunca ri, srta. Eyre? Não se dê ao trabalho de responder. Vejo que ri muito raramente, mas seu riso pode ser muito alegre. Acredite-me, não é naturalmente austera, não mais do que eu sou naturalmente mau. As coações de Lowood ainda estão, de algum modo, impregnadas em você. Controlam as expressões do seu rosto, abafam sua voz e restringem os movimentos do seu corpo. [...] Há um ser cativo aí, vívido, inquieto e resoluto. Se estivesse livre, voaria alto nos céus." (página 170).
Não vou me estender sobre o Sr. Rochester, sobre o possível romance entre ele e Jane Eyre por TRÊS motivos principais: 1) eu não gostei nadinha dele (me julguem!); 2) o foco da obra está longe de ser qualquer romance; 3) chegar em Thornfield Hall não é o fim da jornada ou do sofrimento de nossa protagonista, a propriedade é apenas um pedaço do caminho que Jane tem de percorrer (escalar, superar...), e o sr. Rochester é um dentre os diversos personagens que surgem em seu caminho (ele tem grande importância no processo de amadurecimento dela? CLARO QUE SIM!). 
Acredito que o intuito da autora era mostrar as condições a que uma jovem órfã era submetida em seu período, bem como as dificuldades enfrentadas por uma mulher sem suporte, sem família, sem dinheiro, e o papel quase invisível de uma educadora, etc. De todo modo, Brontë fez isso com maestria e, ao mesmo tempo, apoiando-se em várias passagem bíblica (várias mesmo... um leitor desavisado pode até estranhar a grande quantidade de referências bíblicas no livro), aproveita para fazer muitas críticas à sociedade, aos religiosos hipócritas que pregam uma coisa e fazem outra (ah... tão atual!).
Fiquei encantada com o quanto Jane Eyre é forte, sensata, independente, LÚCIDA! Mesmo completamente apaixonada, em nenhum momento ela passa por cima de seus princípios. Aliás, mesmo tendo passado a vida sem receber amor, em nenhum momento ela se faz menor e menos digna de ser amada; e, ainda, nos dá uma aula de amor próprio:
"Eu me importo comigo. Quanto mais solitária, mais desprovida de amigos, mais sem amparo eu estiver, mais vou me respeitar." (página 370)
Sem dúvida Jane Eyre tem muito o que ensinar às mulheres que, em pleno século XXI, ainda se omitem, se apagam e se excluem em detrimento de seus parceiros ou de um relacionamento (nada saudável, por sinal). Sejamos todas Jane Eyre!
Enfim... Uau, que livro! ❤ Personagens muito bem construídos, protagonista extremamente forte (principalmente considerando o período em que o livro foi escrito e o fato de ter sido escrito por uma mulher, com todas as limitações que lhe eram impostas), cenários sempre sombrios e/ou misteriosos, fazendo jus ao estilo gótico.... tudo me agradou do começo ao fim, até mesmo o sr. Rochester. Eu disse ali em cima que não gostei dele, e é verdade, mas eu gostei do fato de o "mocinho" ser tão diferente do que eu esperava, isso só agregou mais à história.
Leitura mais do que recomendada! Livro concluído e favoritado. ❤

Classificação: 

***
Espero que gostem!!

Beijos e amassos!!

2 comentários

  1. Oi Amandinha!!!
    Que resenha hein, percebe-se claramente o quanto a leitura mexeu com você, e posso garantir que comigo também! Se levada em consideração a época em que o livro foi escrito Jane é um exemplo de mulher a ser seguido, não só ontem como amanhã. E que família né? Três irmãs talentosíssimas à frente do seu tempo. Realmente uma inspiração... amei ler esse livro com vocês ( apesar de ter me atrasado rsrs ) e ansiosa para a próxima leitura!!

    Beijokas

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    Respostas
    1. Oi, Kelly!
      Parabéns por ter conseguido ler a resenha até o final hahaha
      Eu amei tanto o livro que foi impossível ser sucinta.
      Jane Eyre é um grande exemplo de mulher, e a família da coitada foi escolhida a dedo, né?! Um pior que o outro. Espero reler esse livro um dia (e continuar torcendo o nariz para o Sr. Rochester e para o robô St. John ahahaha).
      Que venham nossas próximas leituras coletivas! o/

      Obrigada pelo comentário!
      Beijos

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