5 de janeiro de 2016

RESENHA: Coração Artificial

Editora: Desfecho Romances
Autor(a): Viviane L. Ribeiro
Número de Páginas: 309

Sinopse: Gabriel é filho de um importante magnata da indústria de órgãos artificiais, e Alicia é apenas uma estudante inteligente o bastante para ter uma bolsa de estudo na mesma faculdade privada que Gabriel frequenta. O fato é que eles nunca teriam se conhecido se Gabriel não tivesse parado para ajudar Alicia com seus livros e muito menos se aproximado tanto se não a tivesse visto cantar em um bar numa noite. 
Então acontece um acidente de carro.
E estranhamente as pessoas próximas a eles estão tentando mantê-los afastados, e enquanto isso, eles vivem a vida naturalmente, acreditando que o acidente não trouxe nenhuma consequência para suas vidas. 
Mas a verdade é que estão completamente errados.
Olá gente lindaaaa!!!
Hoje é dia de resenha, a primeiríssima resenha de 2016! Ebaaaa!!
Li "Coração Artificial" por estar participando de um book tour organizado pela autora e confesso que, apesar das altas expectativas, fiquei um pouco decepcionada.

A resenha de hoje será um pouco diferente, pois antes de falar sobre a história ou sobre os personagens, eu irei falar sobre o texto, sobre a escrita da autora e sobre minha dificuldade em concluir a leitura.
As primeiras 100 páginas foram extremamente arrastadas, não pela história em si, mas pela quantidade de problemas gramaticais. Eu não costumo ser chata pra esse tipo de coisa, pelo contrário, por ser formada em linguística, eu costumo relevar muita coisa e "fechar os olhos" para certos "erros" gramaticais ou ortográficos, mas, poxa, é um livro! E ele está circulando, está sendo vendido, lido... é preciso ter um cuidado maior com o texto. Eu entendo que por se tratar de uma publicação independente, os custos de uma revisão podem ser um pouco altos, mas seria um bom investimento, né?!
A autora escreve em primeira pessoa, no passado, embora, creio eu, ela quisesse dar o sentido de simultaneidade entre os acontecimentos e a narração, e é aí que ocorre uma das coisas que mais me incomodou durante toda a leitura: a confusão com os tempos verbais e a noção espaço temporal.
Por exemplo:
"Eu olhava para o relógio no pulso o tempo todo, a única coisa que eu conseguia pensar era no compromisso que eu teria depois que conseguisse o fora daqui." (página 11)
Toda a cena está sendo descrita simultaneamente ao momento em que ocorre, por isso o correto seria utilizar os verbos no presente (embora esse não seja o único problema desse trecho). E, utilizando-se os verbos no Pretérito Imperfeito do Indicativo, como a autora vez, o uso de "daqui" está inadequado.
Talvez o trecho ficasse melhor desse modo: "Eu olho para o relógio no pulso o tempo todo, a única coisa em que consigo pensar é no compromisso que terei depois que (ou quando) eu conseguir dar o fora daqui."
Outros exemplos semelhantes:
"Estar aqui era a prova de que eu não me achava bom demais para não acompanhar meus amigos". (página 60)
"Eu era o único aqui que não achava que isso fosse algo incomum?" (página 69) 
Outra coisa que me incomodou foi a falta do uso do pronome oblíquo em início de frase: Exemplos:
"Afastei da mesa e despreocupadamente joguei as costas na cadeira [...]" (página 54) - Afastei-me
"Aproximei da mesa que ela sentava, com a coluna curvada [...]" (página 65) - Aproximei-me

Esse tipo de coisa acontece durante o livro todo, e embora possam parecer coisas pequenas e insignificantes, incomodam bastante quando são muito recorrentes. A partir da metade do livro eu me forcei a ignorar tudo e fazer mentalmente as substituições que julguei necessárias para a compreensão da história.
Eu não conheço a formação da autora, nem estou dizendo que ela escreve mal, mas esse livro precisa de uma boa revisão e, repito, não digo isso para criticar a escrita da autora ou desmotivar ninguém (também porque eu pareço ser a única leitora a me incomodar tanto com isso, visto a classificação do livro no Skoob e as resenhas tão positivas), mas para reforçar que todo texto precisa ser lido por um profissional, especialista (chamem como quiserem). Todo processo criativo precisa do auxílio de um outro olhar, de uma outra leitura.
Quanto a história, quando eu finalmente consegui me concentrar, começou a fluir bem. A premissa me pareceu bastante interessante desde o início, afinal, nunca li nada sobre corações artificiais, porém não houve maior aprofundamento em nenhum dos personagens, nem mesmo do protagonista. A sequência em que as coisas aconteceram foi bastante organizada e tudo ficou bem amarradinho, porém eu senti falta de um desenvolvimento maior do protagonista, principalmente por se tratar de um livro narrado em primeira pessoa. Apesar de eu ter conseguido entender a mágoa de Gabriel em relação ao abandono da mãe, a indiferença do pai e o fato de não poder escolher o próprio futuro, na maior parte do tempo ele me pereceu um rebelde sem causa. Acho que a Síndrome de Asperger poderia ter sido mais explorada; o ex-namorado de Alícia poderia ter representado uma ameaça maior, etc.
Eu gostei bastante de Alícia e do modo como ela dá valor aos momentos, como ela tenta fazer Gabriel enxergar a efemeridade das coisas, a perder o medo de se arriscar. A perder o medo de viver. E, apesar de ter ficado confusa com o final em um primeiro momento, quando consegui assimilar tudo (e superar o choque), acabei gostando.
"Algumas pessoas conseguem ser um ponto colorido num filme preto e branco." (página 87)
A história não é ruim, de forma alguma, e apresenta diversos trechos interessantes, mas como eu disse, uma boa revisão textual e, talvez, a reformulação de algumas cenas, com o intuito de dar um maior aprofundamento, uma maior consistência, viria  a calhar e os problemas que destaquei desse livro seriam resolvidos. Fica a dica para quem pretende escrever e publicar: uma boa revisão de textos não deve ser tida como opcional, mas com indispensável! Faz toda a diferença.

***
Classificação: 

***
Espero que gostem!!

Beijos e amassos!!

6 comentários

  1. Oii, Amanda!

    Essa revisão está me dando uma dor de cabeça e tanto. Mas eu amei a sua resenha,e aprendi muito com ela.

    beijos!

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    1. Fico feliz por ter ajudado em algo.
      E, lembre-se, em momento algum eu penso em desmotivá-la, pelo contrário, espero ler outros livros de sua autores, sempre melhores. ^^

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  2. Saudações Lady Amanda,
    Entendo bem os problemas em conseguir prosseguir com uma leitura em que a cada frase a vontade pegar a caneta/lápis e reescrevê-la nos domina.
    E claro, também entendo o lado da autora e dos custos.
    Espero que ela consiga resolver os problemas e deixar o livro perfeito!


    Venha visitar o Castelo
    Att
    Ana P. Maia ♛
    The Queens Castle

    Cara de um, focinho do outro
    Cara de um, focinho do outro - EXTRA

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    1. Saudações, Rainha Ana!
      Realmente, é uma via de mão dupla, né?! Torço para que a autora consiga dedicar uma atenção especial e republique o livro. A história tem tudo pra dar certo.

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  3. Sempre dando dores de cabeça, essa moça chamada: revisão.
    Parece ser uma boa história. Um tanto diferente das que costumam aparecer sempre. Gostaria de lê-lo.

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    1. Nem me fale, Horlanda. E é tão difícil encontrar os erros no próprio texto... é sempre necessário pedir a leitura de outra(s) pessoa(s).
      A história tem tudo para dar certo, só precisa de uma ajudinha dessa moça chamada revisão rs.

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