1 de outubro de 2018

RESENHA: Norte e Sul

Editora: Martin Claret
Autor(a): Elizabeth Gaskell
Número de páginas: 744

Sinopse: Margaret Hale é uma mulher forte, filha de um ministro religioso, que se muda para a cidade de Milton, no norte da Inglaterra. Margaret vê o sul, lugar onde nasceu como símbolo do idílio rural, o triunfo da harmonia social e do decoro. Imagem que se contrapõe com o norte e seu ambiente sujo, rude e violento. Ela se depara com a difícil realidade da população local, encontra novas amizades e o surgimento de uma crescente atração por John Thornton, dono de uma fábrica têxtil.

Olá gente lindaaa!!
Já faz um tempinho que concluí a leitura dessa romance social sensacional, mas só hoje consegui um tempinho pra vir aqui dividir mina experiência de leitura com vocês.
"Norte e Sul" foi o livro livro da segunda edição da #LeituraColetiva organizada por mim e outras blogueiras (mais informações aqui e aqui). E... que surpresa boa!

"Norte e Sul" é um clássico escrito em 1854, mas publicado no Brasil apenas em 2011. Eu conheci a história, anos atrás, por meio da adaptação televisiva do romance, produzida pela BBC em 2004. Desde então decidi que leria o livro (embora na época ainda não houvesse nenhuma edição publicada no Brasil). Então, quando foi preciso decidir qual seria segunda leitura em conjunto, não precisei pensar muito para sugerir que lêssemos um dos romances mais famosos de Gaskell

No início do livro, quando conhecemos Margaret Hale, a jovem de 19 anos que foi criada em pelos tios em Londres e agora acaba de voltar "para casa", para  viver novamente com os pais no interior rural da Inglaterra, confesso que lembrei de "Mansfield Park", de Jane Austen. Mas, que bom que a semelhança entre os dois romances para por aí. Diferentemente da "apagada" Fanny Price, Margaret é uma personagem com muita personalidade, muita força, muita bondade e um tiquinho de "nariz empinado".
Margaret mal acaba de se restabelecer em seu lar de infância, de onde tanto sentia falta e precisa lidar com mais uma mudança. Seu pai, um pároco querido pela vizinhança e famoso por seus sermões, decide que deixar de pregar, ele tem dúvidas quanto ao que sempre acreditou e não se sente confortável em continuar sendo um pároco. Assim, após algumas providências, ele parte com a esposa e a filha para Milton, uma cidade industrial. Ele não poderia ter escolhido um lugar mais diferente de Helstone, onde vivia com a esposa.
"As carruagens tinham mais ferragens e menos madeira e couro em volta dos cavalos. As pessoas nas ruas, embora apresentassem um ar divertido, tinham a mente preocupada. As cores pareciam mais cinzentas, mais resistentes, não tão alegres e bonitas." (página 113)
Em Milton, o sr. Hale começa a atuar como professor particular, e dentre seus alunos está John Thornton, dono de uma das maiores fábricas da cidade. Logo no primeiro encontro com Margaret, John se sente atraído pela moça, mas em pouco tempo fica claro que suas personalidades são opostas. Ao longo de toda a história ocorrem muitos mal-entendidos, muitos pré-julgamentos e uma desconfiança e preconceito mútuos, de modo que por um bom tempo (não vou dizer quanto) os sentimentos de John são secretos e não-correspondidos.
"Sentou-se de frente para ele, voltada para a luz. O olhar dele foi invadido por sua beleza plena. Seu pescoço branco e flexível se projetava do corpo ágil. Os lábios se moviam levemente enquanto ela falava, sem perturbar a expressão fria e serena do semblante por algum movimento de suas atraentes e soberbas curvas. [...] Faltou pouco para que ele dissesse a si mesmo que não gostava dela, antes que a conversa entre eles terminasse." (páginas 120-121)
Confesso que nessa primeira parte do romance não pude evitar comparar John e Margaret com Elizabeth Bennet e sr. Darcy ("Orgulho e Preconceito"), principalmente considerando seus primeiros diálogos, o embate constante, o preconceito mútuo e outras coisas mais que é melhor eu não dizer para não dar spoiler. Mas devo avisar que as semelhanças que eu possa ter encontrado entre as duas obras termina aí. "Norte e Sul" é carregado por um tom muito mais pesado, mais sombrio, bem diferente das preocupações com o casamento ou bailes aristocráticos. As diferenças sociais em Milton são gritantes, principalmente para alguém que até então viveu cercada de regalias (na casa dos tios). E, em princípio, Margaret só consegue ver as coisas sob a ótica dos operários (como uma alma boa e sempre preocupada com os mais fracos) se solidarizando (e revoltando) com suas condições, com seus baixos salários e indo contra a tirania dos patrões. Dentre esses "patrões tiranos" está o aluno e amigo de seu pai, sr. Thornton.
"- Acha a nossa sociedade estranha, por quê?
- Não sei. talvez porque quando olho bem de frente para ela, vejo duas classes dependentes uma da outra em todos os sentidos possíveis e que, ainda assim, veem os interesses da outra como opostos aos seus próprios interesses. Nunca vivi antes num lugar onde há dois grupos de pessoas que tentam derrubar-se mutuamente."
(página 216)
"Norte e Sul" é cheio de personagens interessantíssimos, além da própria Margaret que é um exemplo de força, tornando-se o "pilar" da família desde que voltou para casa. Foi ela quem administrou a mudança para Milton e tentou apaziguar as coisas no novo lar, proteger o pai da enfermidade da mãe, proteger a mãe do que quer que fosse... sem dúvida Margaret é uma heroína de peso. Talvez por isso ela tenha tanta dificuldade e perceber os sentimentos daqueles que a rodeiam (tanto sr. Thornton quando o Lennox...).
"Margaret não era na verdade uma pessoa fácil de deixar-se amar, mas, quando o fazia, amava de forma apaixonada, com um grau bem elevado de ciúme." (página 227)
A mãe de Johnsra. Thornton, mostra-se tão possessiva, tão protetora em relação ao filho e, por isso, tão desagradável com Margareth (ela me fez lembrar da tia mocréia do sr. Darcy). Aff, que preguiça dessa mulher! haha
A pobre Bessy também teve papel importante na história, fazendo com que o leitor conheça melhor o lado caridoso, amoroso e solidário de Margaret, além de nos fazer conhecer ainda mais o lado dos operários, as consequências das péssimas condições de trabalho e do baixíssimo salário. O sr. Higgins é um show a parte... além de pai de Bessy, ele é operário e faz parte do sindicato que organiza as greves (inclusive a maior delas que estoura no início da história e cujas consequências acompanhamos no desenrolar de toda a trama). Sempre rabugento e ao mesmo tempo esperançoso e confiante de um futuro melhor.
"O que eu queria saber era quais era os direitos do homens, fossem eles ricos ou pobres... Desde que fosse apenas homens." (página 402)
Só posso dizer que estou apaixonada pela história, pela escrita da autora, pela riqueza de detalhes, pelo modo como ela explicitou as diferenças não apenas entre o norte e o sul, mas entre as duas classes (patrões e empregados), em um Inglaterra no início da Revolução Industrial.
O amadurecimentos dos personagens foi sem igual, mas confesso que o final me deixou com um gostinho de quero mais.... porque acho que não tive o suficiente de Margaret e John, apesar das mais de 700 páginas.
"São as pequenas transformações entre as coisas familiares que conhecemos que mostram o mistério do tempo para os jovens, e mais tarde perdemos o sentido do mistério. Considero todas as coisas que vejo como uma consequência natural. Para mim a instabilidade das coisas humanas é familiar. Já para você ela é uma coisa nova e opressiva." (página 665)

Leitura mais do que recomendada! Agora o próximo passo será assistir novamente a série de TV, produzida em 2004. Ah, além de conferir a adaptação realizada em 1975, da qual já falei aqui!

Classificação: 

***
Espero que gostem!!

Beijos e amassos!!

5 comentários

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Gostei tanto desse livro que ele se tornou o meu favorito da vida!♥️
    Sobre o final, também fiquei com a mesma sensação que você. Queria mais páginas de Margaret e Thornton! Eles são apaixonantes!♥️♥️♥️
    E parabéns pela resenha. Ela ficou ótima!!! ♥️♥️♥️

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    1. Oi, Isabela!
      Eu amei o livro e com certeza irei ler outros da autora.
      Margaret e Thornton ganharam um lugarzinho especial no meu coração.

      Fico feliz por você ter gostado da resenha, fiz com muito carinho.
      Obrigada pelo comentário! ;)

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  3. Eu também tenho uma recomendação! Gosto muito de Jane Eyre ♥️♥️♥️♥️
    Que tal uma leitura coletiva e uma resenha??♥️♥️♥️

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    1. Oi, Isabela!
      Boa sugestão e... você acertou em cheio: a leitura coletiva de Jane Eyre está programada para fevereiro de 2019. Será nossa primeira leitura do ano.

      Fique de olho nas redes sociais do blog, pois sempre divulgo as novas leituras coletivas com duas semanas de antecedência, assim você pode se organizar e ler conosco.

      Beijos!

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