23 de agosto de 2023

RESENHA: Amêndoas

Editora: Rocco
Autor(a): Won-pyung Sohn
Número de páginas: 288

Sinopse: Yunjae nasceu com uma condição neurológica chamada alexitimia, ou a incapacidade de identificar e expressar sentimentos, como medo, tristeza, desejo ou raiva. Ele não tem amigos ― as duas estruturas em forma de amêndoas localizadas no fundo de seu cérebro causaram isso ―, mas a mãe e a avó lhe proporcionam uma vida segura e tranquila. O pequeno apartamento em que moram, acima do sebo da mãe, é decorado com cartazes coloridos com lembretes de quando sorrir, quando agradecer e quando demonstrar preocupação. 
Então, no seu décimo sexto aniversário, véspera de Natal, tudo muda. Um ato chocante de violência destrói tudo que Yunjae conhece, deixando-o sozinho. Lutando para lidar com a perda, o garoto se isola no silêncio, até a chegada do problemático colega de escola Gon.
Conforme começa a se abrir para novas pessoas, algo se modifica lentamente dentro dele. Quando suas novas amizades passam a apresentar níveis de complexidade, Yunjae precisará aprender a lidar com um mundo que não compreende e até se colocar em risco para sair de sua zona de conforto.

Olá gente lindaaaa!
Hoje vim falar sobre "Amêndoas", de Won-pyung Sohn, um livro que me chamou a atenção pela capa, pela nacionalidade (dorameiros vão me entender) e pelo trecho destacado na quarta-capa:

"Eu tenho amêndoas em mim. Assim como você. Assim como quem você ama e quem odeia. Mas ninguém consegue senti-las. Você só sabe que elas existem. Esta história é, em resumo, sobre um monstro encontrando outro monstro. Um dos monstros sou eu." 
Não pesquisei sobre o livro e arrisquei pagar R$ 59,90 num exemplar em uma livraria de aeroporto (sempre uma facada). Foi um tiro no escuro, mas "Amêndoas" foi o melhor livro que li este ano, talvez em muitos anos, na verdade.
Yunjae é um monstro. Pelo menos é assim que tem sido visto e tratado desde que se entende por gente. Aos 15 anos de idade, Yunjae nunca sorriu, nunca sentiu medo, tristeza, raiva ou qualquer outra coisa. Alexitimia é o nome da condição rara que faz com que Yunjae não seja capaz de identificar e expressar sentimentos, o que pode ser um grande problema ao viver em sociedade. Sua condição pode ter causas variadas: falta de desenvolvimento emocional na primeira infância, transtorno de estresse pós-traumático ou, no caso de Yunjae, amídalas (amígdalas cerebelosas) menores que o padrão de nascimento, resultando em uma completa apatia diante de qualquer situação. Vale pontuar que nosso protagonista chama essas amidalas de amêndoas, pela semelhança entre elas.
Ao longo na narrativa, em primeira pessoa, acompanhamos a relação de Yunjae com a mãe e a avó, o esforço das duas em fazê-lo tentar identificar os sentimentos das pessoas por meio de expressões faciais, gestos e palavras, a fim de ajudá-lo a reagir da maneira correta, da maneira esperada. A fim de fazê-lo não mais carregar o rótulo de esquisitão, de monstro, etc. Não se trata, no entanto, de uma tarefa fácil. Como ensinar alguém a reagir em uma situação perigosa se essa pessoa não sabe o que é sentir medo?
Yunjae demonstra certa incredulidade em relação às pessoas, mas após uma tragédia, ele se vê diante do desafio lidar, sozinho com uma perda. Além disso, ao voltar a frequentar a escola, ele se vê alvo dos ataques de Gon, que o fará questionar os comportamentos humanos, não com revolta, uma vez que até agressões físicas e psicológicas lhe causam mera apatia, mas com curiosidade. Ele quer aprender a entender as pessoas. Será possível?
"Tudo que pude fazer foi assistir à porta de vidro ficar mais e mais vermelha. Ninguém interveio naquele tempo todo. Vi um cenário congelado. Eles só ficaram ali e assistiram, como se o homem, Mamãe e Vovó estivessem encenando. Todo mundo era a plateia. Inclusive eu." (página 68)
"Todo mundo pensa que 'normal' é fácil e coisa e tal, mas quanto realmente se encaixariam no dito 'caminho tranquilo' que aquela palavra sugeria? Com certeza era bem mais difícil para mim, alguém que já não nasceu normal." (página 100)
Gon, por sua vez, um jovem problemático e cheio de revolta, se vê diante de alguém que não parece temê-lo, tampouco julgá-lo como as outras pessoas. Isso é novidade para ele. E, assim, tem início uma complexa relação entre alguém que não sente nada e alguém que sente tudo intensamente. Tão diferentes e igualmente tão necessitados de uma amizade. 
"Cá entre nós, quem você acha que é mais infeliz? Você, que teve e perdeu uma mãe, ou eu, que de repente encontrei uma de quem sequer me lembrava, só para que ela morresse logo em seguida?" (página 180)
Enfim, Yunjae não sente nada, mas me fez sentir muitas coisas. Eu chorei (muito), sorri com as tantas sutilezas e ambiguidades que nosso protagonista não consegue compreender, senti pena, senti raiva... senti muito.
"- O que 'amor' significa? - perguntou Mamãe, maliciosa.
- Descobrir a beleza."
(página 194)
"Eu decidi confrontá-la. Confrontar qualquer coisa que a vida jogue em cima de mim, como sempre fiz. E sentir tanto quanto eu puder. Nem mais nem menos." (página 282)

Classificação: 

***

Espero que gostem!!

Beijos e amassos!!

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