21 de fevereiro de 2021

RESENHA: meu corpo minha casa

Editora: Planeta
Autor(a): Rupi Kaur
Número de páginas: 192

Sinopse: A terceira coletânea de poesias de Rupi Kaur, maior fenômeno da poesia mundial nos últimos anos. Um dos temas mais frequentes na obra de Rupi Kaur é a importância que há em crescer e estar sempre em movimento. Em Meu corpo minha casa, ela leva leitoras e leitores a uma jornada de reflexão através da intimidade e dos sentimentos mais fortes, visitando o passado, o presente e o potencial que existe em nós. Os poemas dessa coletânea, ilustrada pela autora, inspiram uma conversa interna em cada um, lembrando que precisamos nos preencher de amor, de aceitação e de confiança em nossas relações familiares e de comunidade. E, sempre precisamos estar de braços abertos para as mudanças em nossas vidas.

Olá gente lindaaaaa!

Será que este ano teremos uma Amanda mais ativa por aqui? (se é que postar uma resenha por mês seja "ser ativa").
Que eu não leio mais como antes não é novidade para ninguém, e essa é razão por eu não me dedicar tanto ao blog (e este é um belo de um eufemismo), mas os livros da Rupi Kaur tem o poder de me reconectar com a leitura e me ajudam a relembrar os velhos tempos, quando eu pegava um livro para ler um capítulo e devorava.
"meu corpo minha casa" é o mais novo lançamento da autora, e antes dele vieram "outros jeitos de usar a boca" e "o que o sol faz com as flores". Assim como as coletâneas anteriores, o livro é dividido em partes, quatro para ser mais precisa: mente, coração, repouso e despertar.
Assim como nos livros anteriores, Rupi Kaur fala de forma sincera e crua sobre a dor de ser mulher, sobre nossas dores diárias em uma sociedade que nos aponta o dedo e nos faz sentir culpadas simplesmente por sermos o que/quem somos: mulheres. A autora nos abre os olhos para o fato de que a sociedade tenta nos diminuir porque, na verdade, teme o nosso poder.


Sempre que leio a poesia de Kaur, eu respiro fundo e noto que carrego nos ombros o peso do mundo. E tenho certeza que se você é mulher, isso é inevitável. Diária e constantemente somos oprimidas, acusadas e podadas por todos os lados, por isso é importante saber que não estamos sozinhas, que juntas somos mais e mais fortes. Não precisamos mais aceitar (suportar) que nos limitem, que nos moldem, que nos façam acreditar que nosso corpo não é o ideal, que nosso rosto, nosso comportamento, nossos pensamentos e nossas palavras não são aceitáveis. Segundo quem?
Transcrevo abaixo alguns dos meus poemas favoritos de cada parte do livro:

mente:

"minha mente
meu corpo
e eu
moramos no mesmo lugar
mas às vezes parece
que somos três pessoas diferentes"

- desconexão (página 16)

"se você aceitasse
que a perfeição é inatingível
de que insegurança você abriria mão" (página 20)
"você põe tudo a perder 
quando não ama primeiro você"

- e ganha tudo quando se ama (página 31)
"ou eu romantizo o passado
ou perco tempo me preocupando com o futuro
não é à toa
que eu não me sinto viva
eu não estou vivendo
no único momento que existe"

- presente (página 34)
"cansei de ficar decepcionada
com a casa que me mantém viva
estou exausta de tanto gastar energia
odiando a mim mesma"

- chega de ódio (página 49)

coração:

"gosto demais da minha vida
para ficar toda derretida
pelo próximo homem
que me deixar com frio na barriga
quando eu posso me olhar no espelho
e me tirar o fôlego"
(página 69)
"não há nada que um homem possa fazer por mim
que eu não possa fazer por mim mesma"

- coisas que eu queria dizer à minha versão mais jovem (página 74)
"eu não vou fingir
que sou menos inteligente
para que um homem fique
mais à vontade ao meu lado
a pessoa que eu mereço
vai ver o meu talento 
e vai enaltecê-lo"
(página 77)
repouso:

"eu fico tão distraída
pensando no lugar aonde queto chegar
que esqueço que o lugar onde estou
já é muito especial"
(página 110)
"calma eu pedi para minha cabeça
essa sua mania de pensar demais
enche a gente de tristeza" (página 122)

despertar:

"você tem tudo a ganhar
ao acreditar em você
mas perde tempo duvidando de  si"
(página 155)
"esteja aqui
no que o dia de hoje pede"

- é assim que você valoriza o amanhã (página 174)
"eu nunca mais terei
de volta esta versão de mim
me deixa pegar leve
e passar um tempo com ela"

- sempre evoluindo (página 183)

Eu falo por mim, mas tenho certeza de que grande parte das mulheres se identifica com isso, mas tem dias que acordo, olho no espelho e não gosto do que vejo. Não gosto da minha herança genética, não gosto de como meus quadris parecem largos demais, de como meus dentes não são brancos o suficiente, de como minha barriga faz dobrinhas quando eu sento, de como meu rosto não é anguloso o suficiente, de como meu rosto apresenta marcas dos meus trinta anos (eu sou um ser humano que envelhece! Que audácia!). Mas, por outro lado, tem dias - aqueles em que estou mais consciente, que me olho e penso: "porque não gostar do formato do meu rosto, das minhas curvas, do meu sorriso?" Eu me pareço com a minha mãe, tenho as pernas da minha bisavó, os pés do meu pai, as covinhas do meu irmão... e uma barriguinha bem feliz e alimentada de muita comida gostosa que, graças a Deus, eu tenho condições de comer. Meu rosto tem marcas, caramba! Marcas de trinta anos em que fui bem feliz, ri muito, aprendi pra caramba e, mais importante, me tornei uma versão melhorada do que eu fui antes. É isso que a poesia de Kaur faz, ela te abre os olhos, te empodera e, ao mesmo tempo, te faz perceber que você não é a única no meio dessa confusão de pensamentos conflitantes. Você não é a única que passar pelo desafio de (tentar) se amar quando tudo ao redor faz o possível para te tornar odiável aos próprios olhos, só por não ser perfeita de acordo com o padrão que algum idiota inventou. 
Na minha resenha eu foquei mais no que as poesias me tocaram, no padrão de beleza inalcançável, no quanto nos sentimos desconfortáveis em nosso próprio corpo e tal, mas a coletânea reúne poesias que nos fazem pensar sobre diversas outras coisas, como nossa mania de viver mais o ontem e o amanhã do que o próprio hoje; o fato de estarmos tão aceleradxs que não paramos para respirar e viver o agora. Vale ressaltar também que além das poesias que abordam assuntos que nos são tão familiares, há diversas poesias que são um soco no estômago, que abordam abuso na infância, dependência emocional, relacionamento tóxico, etc. 

Classificação: 

***
Espero que gostem!!

Beijos e amassos!!

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